O Bombardeio de Salvador de 1912 foi um dos momentos graves da luta política existente entre as oligarquias da República Velha no Brasil.
Quando a República foi proclamada no Brasil, seguiram-se dois governos militares, dos marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto, antes dos civis assumirem a presidência. Passados esses anos, estabeleceu-se no Brasil o poder de oligarquias políticas que dominou o governo. No início do século XX, o poderio político já estava, sobretudo, nas mãos dos produtores de café, principal produto brasileiro para exportação. Em 1910, ocorreria uma divisão do grupo conservador na Bahia em função das disputas políticas para a presidência da República. Mesmo com os baianos tendo um candidato, Ruy Barbosa, ainda havia uma fragmentação de interesses e parte dos conservadores baianos apoiava o candidato militar Hermes da Fonseca. O cenário era de completa desunião, sendo que mesmo entre os conservadores que apoiavam Hermes da Fonseca também havia divisão. Um desses grupos, e o que saiu vencedor, era liderado por Seabra. A vitória de seu grupo nas decisões políticas o tornou muito popular, o que lhe deu boas condições para disputar o governo do estado da Bahia.
O candidato ao governo da Bahia, Seabra, enfrentaria dificuldades para vencer as eleições mesmo com toda a popularidade. Isso porque o modelo eleitoral da época lhe faria vencer no voto popular, mas não lhe garantiria a vitória no poder legislativo, que também votava. Nas eleições estaduais de 1912, Seabra elaborou uma estratégia que consistia em adiar o máximo possível as eleições. Seabra contava com a intervenção do governo federal, que estava nas mãos de Hermes da Fonseca, pois este procurava intervir e manter nos governos estaduais seus aliados políticos. O atraso das eleições fez com que o governador baiano Araújo Pinho renunciasse ao cargo por extrapolar o tempo previsto de mandato. Na ocasião, seu sucessor imediato, Manuel Leôncio Galvão, também recusou o cargo alegando doença. Para desgosto de Seabra, a situação abriu caminho para Aurélio Rodrigues Viana tomar posse. Este era um inimigo declarado de Seabra, os dois eram os líderes dos grupos opositores na disputa política dos grupos oligárquicos que apoiaram Hermes da Fonseca à presidência.
Os opositores de Seabra articularam para que Viana assumisse o governo do estado. Viana alterou por decreto a capital da Bahia para Jequié, sua cidade natal, que, no entanto, era muito atrasada à época. A medida não foi só em função da origem de Viana, mas a transferência da capital para Jequié levava também o poder legislativo para a cidade e, assim, defendia-se da intervenção do governo federal. Naturalmente, os opositores contestaram a medida e acionaram a Justiça Federal para analisar o fato. Entretanto Viana ignorou a sentença, o que criou a situação para um conflito direto.
Com a representatividade política ainda em Salvador, tropas do exército tomaram a cidade para cumprir a decisão judicial e derrubar Viana. Este recebeu um ultimato sobre a situação, mas também ignorou os avisos. Desta forma, às 14 horas do dia 10 de janeiro de 1912 teve início o Bombardeio de Salvador. Os primeiros ataques vieram do Forte de São Pedro e do Forte de Barbalho destruindo o que era a sede do governo. Este primeiro ataque foi responsável pela perda de grande parte da história do Brasil, pois o incêndio provocado atingiu a Biblioteca Pública que era também sede do Arquivo Público da Bahia onde era guardada a documentação sobre a primeira capital da história do Brasil. Muitos documentos preciosos e raros foram perdidos para sempre. Para completar, o ataque se seguiu como uma guerra campal culminando com a tomada dos prédios públicos pelo exército e pela marinha. No dia seguinte, Viana renunciou ao cargo, porém retornaria no dia 22 de janeiro do mesmo ano. No dia de sua nova posse, o povo varreu a cidade em protestos e Viana fugiu declarando-se refugiado. Nova renúncia aconteceu no dia 27 de janeiro e, no dia seguinte, ocorreram as eleições que consagraram a vitória de Seabra. Este teria sido o principal articulador do Bombardeio a Salvador e seria seu beneficiário decidindo os rumos da Bahia pelos próximos anos.
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